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terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Sombras

Gente que vai combater... by Isacc Diaz Pardo
Toda a memoria é sombra. É rasto. Todos os seres humanos ao morrermos deixamos nossos traços de ausência a marcar a luz do dia dos que nos sobrevivem... Isso a ninguém surpreende, e menos ainda às viúvas de vivos da Galiza, sim, os seus homens vão ao mar, e demaram em voltar... Por vezes não voltam e nem seus corpos regressam à nossa Costa da Morte para serem dignamente enterrados, mas todos os que no mar morrem, nós sabemos, no fim do fim regressam no voo da gaivota... Não voltei pisar na sombra da gaivota desde que sei disso.

Por força, na Galiza aprendemos a viver, a conviver, com as sombras, ou a sobreviver apesar delas, desde que nascemos; ajuda o fato de o nosso ser o país dos nevoeiros, com seus dias sempre grises, com seus frondosos e escurecedores bosques, tudo ajuda para nos irmos treinando em suportar a frialdade da escuridão...
 
A morte é sem dúvida a sombra de todas as sombras, todos deixamos a nossa própria a pairar no silêncio da nossa boca apagada, e todos sentimos a dos nossos seres queridos quando partem. Hoje sentimos desse jeito o Isaac Díaz Pardo, que se foi deixando um caminho de Luz que ele criou, e no final, quando os seus olhos se fecharam ficou prendida em nós a sombra da lembrança de ter que sabe-lo ido, esse pesar; Isaac, ido ao reencontro de outros bons e generosos amigos dele e nossos.

Isaac Díaz Pardo (esquerda)
Ora nem todos os homens são iguais, nem todos os mortos aumentam as nossas trevas ao eles morrerem, há mortos que deixam luz ao se afastarem dos caminhos escuros que criaram, porque há sombras que já reinam elas antes de morrer o homem. Há homens aos que a sombra não deixou governar na luz, sombras que não se submetem, sombras que são tão ambiciosas que se assumem elas ser o homem, querem triunfar e embora elas são umas fracassadas, pois como sabemos pelo Oscar Wilde 'a ambição é o recurso dos fracasados'...

A sombra ignora que morto o homem a luz regressa ao mundo e ela morre na morte, levando o homem com ela, é claro, como sempre o levou... Homens-sombra desses todos e todas conhecemos, e não vou nomear o último morto, que morreu apenas 10 dias após perdermos o nosso Isaac Diaz Pardo... Sim, eu fui educada em que dos mortos não se pode falar mal, então alguns eu nem posso nomear... Vou-me limitar a dedicar-lhe umas palavras, vou re-tecer adaptando ao nosso momento, a luz do pensamento do Bertolt Breacht:

Há sombras que duram um dia é são más,
há outras que duram um ano e são piores,
há as que duram muitos anos é são muito más.
Mas há as que duram toda a vida, e estas são as prescindíveis...

(em andamento...)

Concha Rousia

Demarar (ato falho que significa, 'demorar em voltar do mar')





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