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quinta-feira, 4 de agosto de 2011

É preciso

 

É preciso deixar a alma sair
escalar as grandes muradas
que nos encerram e construir
escadas para o céu do dia

É preciso saber do inútil
que é querer ver na escuridão
se não nascemos morcegos
para que tantos radares...!!

É preciso ter memória do dia
saber que só o coração de lobo
medra no ventre dessa noite
onde o humano encolhe-se

É preciso saber que tudo passa
mesmo sem que isso seja consolo
porque passa, sim, mas nos levando
nos matando a ânsia e o querer

É preciso dizer adeus antes do fim
é preciso despedir o mundo
é preciso saber-se prescindível
é preciso dar-se licença para viver

É preciso tentar nadar nas palavras
resgatar nelas o que não quer ir
morrer connosco quando a alma
e as paredes que a protegem caiam...

É preciso descobrir onde moramos
decidir, assumir-nos responsáveis
é preciso querer ser dente de leão
e dançar com tua música preferida

É preciso tocar por dentro os desejos 
e na noite ser estrela a consumir-se
sem ter que imaginar que exista dia
nem que nele as estrelas durmam

É preciso ser rio que adormece e cala
para que os peixes descansem
é preciso ser montanha que respira
vulcão que grita e cospe suas fúrias

E preciso ser vento que leva e lava
as cinzas do que resta do incêndio
que queima os nossos dias todos
até os molhados acabam por arder

É preciso ser tu é preciso ser eu
é preciso ser nós e tudo e nada
misturado, é preciso, é preciso
é preciso sonhar, é preciso...

(em andamento)

2 comentários:

  1. Concha: que emoção boa... ver sua poesia e sentir nos versos... que é possível sonhar e voar... sobreviver e procriar-se. Abraços com carinho; jorge

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  2. Jorge, meu amigo, tua leitura torna vivo o sentido do poema, sonhar é preciso, por tanto temos que fazê-lo sempre possível, mesmo tentado o que parece impossível, pois sabemos que o que não se tenta é o único impossível... Abraços com carinho; Concha

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