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segunda-feira, 11 de julho de 2011

Género e Saúde

(Artigo publicado no jornal 'Novas da Galiza' na seção de saúde da que sou colaboradora na área de psicologia)

A modo de introdução lembrarei aqui aqueles experimentos nos que os sujeitos experimentais eram interrogados sobre o significado atribuído a certos comportamentos de um bebé; o bebé era sempre o mesmo e só se mudava a sua roupa para que umas vezes ‘parecesse’ que era nena e outras ‘parecesse’ que era neno. Os resultados mostraram que os participantes no experimento qualificavam uma conduta de pranto como de 'tristeza' quando julgavam que o bebé era nena, e como de 'raiva' quando pensavam que era neno. Isso mesmo acontecia com outros comportamentos, assim 'gesto de força' versus 'gesto de delicadeza' etc. Desta forma as diferenças observadas pela atribuição do sexo do bebé influenciam a resposta que se dá a esse ou essa bebé; desta forma se vai orientando para que assuma os roles que irão configurando seu género, que será integrado por aqueles roles socialmente aceitáveis... Aqui todos os que temos filhas ou filhos temos um milhão de anedotas para contar. Contudo esse jeito de olhar, esses óculos parciais, são usados sempre, e por todos e todas nós em maior ou menor medida, ao longo da vida. A investigação científica mostra como as mulheres são com muita diferença, respeito dos homens, mal diagnosticadas quando padecem do coração, suas dores no peito são interpretadas como de origem psicogénica em vez de biológica, isso quando não têm que ouvir que são ‘histéricas’ (o termino ‘histérica’ aí é usado no sentido de obsessivamente preocupadas e não no seu sentido psicodinâmico). Isto acontece com muitas outras enfermidades; o problema de base está em que o homem foi tomado como modelo para estabelecer os parâmetros de normalidade e portanto também de patologia, assim como também foi nele que se mediram os efeitos dos medicamentos, e a mulher foi mais uma vez ignorada; como se a humanidade se pudesse resumir no homem. Na área da psicoterapia os dados indicam que a maioria das orientações terapêuticas nem consideram a variável "género", apenas as terapias feministas e as narrativas tomam em consideradão está variável. Um dado das investigações indica que as mulheres são interrompidas três vezes mais do que os homens em psicoterapia. Por todo o exposto ignorar o género e a sua importância, não é imparcial nem por tanto saudável, especialmente para as mulheres.

Concha Rousia

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