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segunda-feira, 23 de maio de 2011

A Noite continua

É noite, e meus irmãos andam perdidos
meus irmãos e irmãs andam longe da casa
dessa casa nossa que não tem portas
nem tem saídas... nem sequer tem janelas
para que eu respire...

É noite e o inimigo fechou fora de nós a nossa Estrela
já não podemos cantar sem saber onde é acima
onde é abaixo e para onde iria a voz do nosso canto
não adianta cantarmos neste mar de pedra
que fixa nossa barca a um sem-rumo certo

Hoje poderia perguntar-me tantas cousas...
poderia perguntar-me se valeu a pena ter vivido
agora que sinto como se nunca tivesse nascido
acaso podemos dizer que a flor que nunca viu o sol
que não tem cor, que não tem cheiro... nasceu?
não me importo com que os morcegos a sintam
eu falo do que sente a rosa
do que sente ela sem sair da noite sem saber
o que é o dia, o que é o voar das borboletas
eu falo de jardins condenados a morar nas mãos
de jardineiros cegos que detestam flores

Mas a rosa também é um conceito, eu sei
basta que alguém a conceber e ela exite

Hoje necessito acreditar cegamente nisso
sei que não posso, como tantas outras vezes
que também não pude e depois me ergui
porque eu tenho que continuar minha espera
tenho que manter o lume acesso noite fora
eu sei que meus irmãos ainda podem voltar
porque eles seguem fora, seguem perdidos

Manterei o lume aceso para seu regresso
juntarei mais e mais e mais lenha
e mesmo se eles nunca mais regressam
eu ficarei sempre a esperar por eles

É noite e meus irmãos andam perdidos...

Concha Rousia

3 comentários:

  1. Concha, me lembro da luta de resistência contra a ditadura militar e Dom Hélder, o bispo vermelho, que tamém era poeta, num momento de tristeza poetisa : o deserto é fértil... Nos roubam a água e a luz, mas extraíremos dos fluxos subterãneos dos sonhos a seiva fertilizante e floresceremos no deserto.
    Abraços com todo o meu coração em Galiza, Ternura e força e paz. Jorge bichuetti
    Ternura ... indignada;
    Força ... insurgente...
    Paz... guerrilheira do caminho na resitência que floresce incendiando de luz as noites escuras...
    Jorge

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  2. Abraço e força recebidos, amigo Jorge... coloco agora esta música que tenho certeza de que gostarás, ela alimenta a esperança... e algum dia a luz sairá da cova, e viajará ao sol, tão bom receber o teu calor, a minha paciente de hoje já me deu um abraço, acho que as duas necessitávamos, Abraços meus e da Galiza que vai em mim, para ti, irmão, Concha

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  3. Belíssima canção, querida amiga, um canto de esperança,; da vida que insiste, persite e não desiste: alvoorecerá... Abraços comcarinho da esperança remoçada: jorge Bichuetti

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