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terça-feira, 24 de maio de 2011

A Camisa da Cobra

Ou quando o mundo em mim se não reconheceu...

Quase nem posso descrever a sensação, ou até deveria dizer a falta dela, ou a falta de um tradutor dela para mim...

Foi assim que chegou aquela imagem, ou talvez fosse uma palavra... como saber? guardo apenas recordação de meu desconcerto, da coberta que me cobriu, e eu sentia sabendo que sentia mas sem saber o que significava... inicialmente me vi confusa, depois quis imaginar o que seria ser cobra e encontrar uma velha camisa, deixada tempo atrás... um dia, um mês, um ano... uma vida, pois com cada mudança se celebra uma nova...

Esse pensar na cobra permitiu-me fugir por lembranças de meu avô, o avô da Fonte, ele apanhava as cobras com a mão quando elas iam entrar no buraco, dava-lhe duas voltas e lançava-as pelo ar... caiam mareadas, então, sem perder tempo, o avô com sua faca cortava a ponta da cauda e a cabeça para que a cobra não se envenenasse toda... espia logo o pescoço da bicha, mordia-a com sua boca e com as mãos despia o corpo todo da cobra... eu nunca vi a cena, mas tenho-a tão desenhada na cabeça que nem vista seria uma imagem mais real, meu pai continuava a contar... eram tempos de os troveiros pararem na casa do avô com suas cantigas, cegos, de violino e vara para andar pelos caminhos... muradana de linho, chancas de pau... depois no inverno o avô fazia o pucheiro para os remédios do frio, com aquele corpo de cobra salgado e curado no fume... o unto era reservado para fretas no corpo... os secredos usos do unto afumado da cobra meu pai me passou...

E nesta hora agradeço a todas essas lembranças que me resgataram de um labirinto que me levava a um abismo em mim, um que era meu e não podia negar, mas os mundos em mim, mais uma vez me resgataram, e esqueci como fora que eu me desconhecera em mim... somos planetas por dentro, galaxias, universos mesmo... infinitos... por descobrir...

Concha Rousia                                                 FRITHJOF SCHUON

3 comentários:

  1. Concha, as recoradações e sua ancestralidade nos alimentam num con-texto que se vivifica quando o acolhemose o bricolamos com novas faces e fases... vida de cobra; cobra de cristal... cristal de carvalho... carvalho do luar.
    Abraços com carinho; jorge Bichuetti

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  2. Sim amigo Jorge, temos tantas vidas como capazes sejamos de cultivar, e acho que tantas como seres amamos... Mas há momentos enquanto se sai de uma para entrar no dia de outra que mudou o rumo (ou mudou a ideia que nos tínhamos do que tinha q ser), que se sente um atravessando abismos. Abraço o teu convite ao canto, a tua alegria, a tua continua luta... hoje recebi um poema de um amigo... a rede se tece com amizade amor e alegria AAA e Abraços com carinho, Concha

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  3. Esta fotografia da obra de FRITHJOF SCHUON chegou-me de de Merce Roro, minha amiga da alma, que entra aqui sempre a ler, e eu deixo aqui um carinho especial para ela, e deixo minha força para ajuda-la na sua caminhada... Abraços com todo o meu carinho, Concha

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