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quarta-feira, 26 de agosto de 2009



 imagem google
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Deitava água na entrada da casa

como se quisesse lavar o mundo
E no chão molhado

brilhava o Universo

Concha Rousia

Vilamarxant 26 de Agosto de 2009

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Canto de Azeviche


(a caminho do Mar, e de mim...)

Entro no vosso mundo, engravidada por um deus desconhecido, mas eu sei que ele não é deste tempo, uso as vossas salas para parir a criança que nenhum pai quer reconhecer, só, eu sei o que é só, havia muitos ao pé de mim, ou talvez fosse sonho, reviso a minha coleção e em todos te encontro, em todos tu, mudando de idade e de rosto, e sei que é a ti que eu busco na minha infinita fugida ao eterno, sei que poderia esconder-me detrás de mim própria para que ninguém me visse, sei-o, como sei contar os dedos dos pés que andam sem eu os mandar... sempre adiante de mim, cada porta que abro, cada olhada ao escuro da desconfiança dos meus novos vizinhos, apanho surpresas que se cravam, lentamente vão matando a quem conheço em mim, sei que não sei aonde vou, sei-o, mas também sei que aqui, onde pousaram a minha cadeira não se está bem, aquele dali é o encarregado de administrar os espaços, e a mim deu-me este recanto escuro, talvez para ele me não ver, mas meus olhos, afeitos a esta escuridão, mostram-me tantas cores... tantas, que tenho de pintar, há tantos quadros vazios aí nos espaços da luz a pronunciar meu nome, a gente mira-me mal, as pessoas não entendem os meus traços, tão desconcertadamente simples, de carvão preto, meu desenhar é ingênuo como o da criança que o intelectual quer descobrir no interior, e eu não posso senão deixar crescer, entristece-me pensar que não sou do vosso mundo, que não sou filha engravidada dos vossos deuses, alguns agarrais minha mão e eu sinto a mornidão do vosso tacto, mas é apenas isso, e é muito, mas morre na intempérie da impenetrável pele, e sigo à procura, se ficar nunca me acharei, nunca me conhecerei, se me ir sei que será em solidão, e ninguém nunca me conhecerá, condenada sem remédio à inexistência, o pior foi abrir os olhos ao azeviche, foi ver as cores todas do preto, agora quando a vossa luz me cega fecho os olhos e entro no infinito.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Versos sem amansar

....................................8 cabeças_escher..................................


Escrevi um poema para chorar
um poema sentimental
de lágrimas doces a escorregar pola folha
numa solidariedade intensa de não saber
quem é que chora
se eu
ou o poema

Eu sangro
eu tenho dentro de mim as facas da vingança
eu estou, mesmo agora, sendo cravada
permite-me que o diga assim cru
como é sentido
sem envoltórios
sem preâmbulos...
eu não sou acompanhada da palavra
da lentidão da tinta da caneta
os meus carreiros de letras
precisam da força do latejar
que os empurra para saírem
eu escrevo com sangue que me queima
que me cicatriza as feridas que me causa
o parto dum poema

eu
como o poeta
gostaria também saber de contenção
de controle do relato
mas eu tenho dentro um cavalo bravo
eu sou um ser selvagem com aparência humana
eu sou a natureza viva que se vê a morrer
eu sou todos os seres humanos do planeta
e sinto simultaneamente tudo o que me nega.

Ás vezes não posso pensar e escrevo
não posso falar e escrevo
não posso ler e escrevo
depois deixo que o pó cubra a face do poema
algum dia
quando o encontrar de novo
não o reconhecerei
nem o lembrarei
e nos faremos amigos
e talvez ele me deixe que o escreva.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Aos amigos em mim...

Foto: Belém de Andrade

"Quando pensem que me estou a ausentar de vocês
saibam que na realidade é de mim que me ausento"

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

4 Pensamentos solúveis


(com a alma em férias, habitando as salas intelectuais do ser):

Pensamento # 1
"Aquele que não valoriza alguma cousa além de si próprio não pode transcender"

Pensamento # 2
"Toda pessoa contém o mundo, mas não para auto-consumo, é sim para o devolver"

Pensamento # 3
"Para poder triunfar é necessário ter uma meta; mas para realmente triunfar é necessário esquecer-se dela"

Pensamento # 4
"Aquele que ama qualquer cousa mais do que a si próprio, nunca morre"